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Leciona Allan Kardec, com notável proficiência, ao cabo de profundo estudo sobre o assunto, que o processo obsessivo consiste no constrangimento que alguns Espíritos infligem a certas pessoas, qualificando-o, conforme seja a intensidade dessa interferência, em simples, podendo evoluir para fascinação mediante ilusão, engano, ou chegar ao grau de paralisia da vontade daquele que a sofre, quando então lhe dá o nome de subjugação ([i]). Observamos que essas investidas espirituais não têm por alvo apenas médiuns no sentido estrito, isto é, aquele que exerce intercâmbio ostensivo entre os dois planos da vida. Todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, de qualquer idade, credo, sexo e condição social são suscetíveis a tais influências, posto sujeitos simultaneamente ativos e passivos do inter-relacionamento das forças do pensamento e habilitados a sintonizarem com mentes que gravitam no mesmo diapasão.

Atento a essas primeiras linhas, o querido leitor poderá imaginar que a obsessão tem sua origem exclusivamente na provocação unilateral de uma entidade espiritual, seja por desafeto de encarnações passadas ou por uma vítima de nossa imperfeição no curso da presente jornada. Contudo, a questão permite um entendimento mais amplo.

De pronto, insta anotar que esse constrangimento só se aperfeiçoará se o sujeito passivo tiver uma mácula moral que permita a influência das energias deletérias externas, porque Espírito regenerado não as registra. Por outra, nem tudo o quanto nos conduz ao desalinho procede dos outros, de sorte que devemos observar melhor nosso comportamento diário para assumir as responsabilidades sobre fatos da vida que escapam da atuação de terceiros. Exemplificativamente, se algo não deu certo como era esperado, tenhamos humildade e sensatez para analisar friamente o quadro de molde a corrigir os próprios erros em vez de procurar outro culpado. Pelo mesmo motivo e lógica, não faz sentido atribuirmos sua origem aos Espíritos. Segue-se, então, ser perfeitamente possível uma pessoa tornar-se obsessora de si mesma, dispensando o concurso de entidade espiritual. É quando se dá a autoperturbação.

As principais causas para esse desalinho estão nas fixações espirituais de baixo padrão a construírem telas mentais nas quais se aprisiona o próprio indivíduo, criador de ideias fixas, também denominadas de monoideias. Yvone A. Pereira ([ii]) relata vários casos de incursões assistidas pelo processo de desdobramento em regiões inferiores, juntamente com o Espírito Dr. Bezerra de Menezes, revelando o alto grau de comprometimento de muitas entidades com suas autossugestões doentias, através das quais passaram a criar uma ambientação psíquica na qual se mantiveram ao longo dos tempos, vivenciando esses quadros em retrospecções involuntárias como se fosse uma realidade. Sobre os casos apreciados, uma devotada irmã que os recebia em visita revelou: “viciaram a própria mente em criações macabras e agora obsidiam a si próprios, originando, com toda a força mental própria do Espírito, este tétrico panorama, resultado do reflexo dos atos passados nas próprias vibrações da consciência”; em seguida acrescenta: “ninguém os castiga a não ser a consciência deles mesmos, desarmonizada com o Bem, na desoladora convicção em que estão, de que muito e muito transgrediram as leis do Amor e da Fraternidade”. Finaliza dizendo que a sociedade terrena está repleta de casos como esses. Nem se poderia esperar fosse de outra forma porque os Espíritos que habitam hoje corpos densos na crosta provém do Plano Espiritual e aqui jornadeiam precisamente para filtrarem essas viciações mentais.

Não se pretende impressionar o destinatário destas notas, mas apenas revelar as possíveis causas de um monoideísmo preexistente e advertir para que todos nós tomemos tento para não criar novos comprometimentos ao nosso equilíbrio espiritual, sabido que somos os responsáveis pelos próprios pensamentos e atos. Dentre as causas atuais podemos destacar o complexo de culpa relativamente a recordações de atos infelizes da presente existência, que nos impressionam a consciência e vêm à tona como açoite constante a nos martirizar. Há ainda os vícios morais que nos obsidiam, quais sejam orgulho, vaidade, preguiça, avareza, ignorância e má vontade, referidos como obsedantes por Emmanuel ([iii]). Por fim, mas sem esgotar o leque de causas ou concausas, merecem destaque as formas-pensamento, criações mentais nem sempre transitórias, formadas por concentrações energéticas de nossos pensamentos, que nos escravizam.

Evidente que um Espírito auto-obsidiado é excelente elemento de atração para as mentes que gravitam na mesma sintonia, tornando-se candidato natural a hospedeiro de obsessores, sejam eles desafetos ou simplesmente oportunistas descompromissados com o Bem. Fique claro, contudo que, num caso ou noutro, o obsidiado não é vítima senão de si mesmo porque, como disse Haroldo Dutra em recente palestra, ninguém coloca algo em outrem se não houver receptividade.

Do quanto acima exposto resulta que os atos e pensamentos contrários à Lei permanecem registrados no refolho da alma, causando mal-estares de diversos graus de intensidade, onde quer que o Espírito se encontre, seja encarnado, seja na erraticidade. Cuidemo-nos, pois, de neutralizar tudo o quanto possa ser causa de auto-obsessão, de molde a não as levar como carga negativa para o outro plano da vida onde as sensações do Espírito são mais intensas, nem nos cause danos ao equilíbrio de hoje. Acaso esse mal já se haja instalado, o tratamento em busca da cura exigirá um trabalho intenso pela renovação, começando por conhecer-se a si mesmo no que concerne ao denominado desejo central, pensamentos e ações, para dissolver todos os fios da teia que nos envolve, e abrir o caminho para a libertação. Nesse tentame, nem sempre a pessoa consegue sucesso por si própria, merecendo buscar auxílio externo, dentre eles junto à Casa Espírita, que a orientará quanto aos efeitos da prece; como absorver os preciosos ensinamentos do Evangelho de Jesus e tê-los como norma de conduta; indicará leituras edificantes; oferecerá exposições evangélicas semanais; transmitir-lhe-á energias mento-eletromagnéticas através de passes e, para quem desejar, estão abertas as portas para estudo da Doutrina, onde encontrará farto subsídio para a fé raciocinada.

Marcus Vinicius

[i] Livro dos médiuns – Cap. XXIII

[ii] Devassando o invisível – Yvone A. Pereira – FEB – 15ª edição, págs. 85 e 86

[iii] O consolador – pelo Esp. Emmanuel – psicografia Francisco C. Xavier – FEB – 29ª ed., q. 381.

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