Mais de dois mil anos atrás, os gregos denominaram “átomo” o que acreditavam ser a menor partícula da matéria. No início do século XX, Rutherford[1] comprovou que o átomo é divisível e formado por outras partículas: prótons, nêutrons e elétrons. Em meados do século XX, outras partículas subatômicas, ainda menores, foram descobertas.
No final desse mesmo século, a Ciência começou a confirmar aquilo que Allan Kardec, em 1860, já havia exposto para o mundo em “O livro dos Espíritos”: tudo o que existe é criado a partir de energia pura, inclusive os átomos. “O Fluido Cósmico é o fio que une as moléculas para plasmar as múltiplas formas de vida” [2]. À época, pelas limitações de conhecimento da Ciência, o que ele chamou de fluido cósmico ou universal seria energia.
Nessa obra, os Espíritos explicam que, ao se combinar e recombinar de diversas formas e em variadas condições a energia mais pura e simples, são criados fluidos sutis e etéreos que, reorganizados, chegam à formação dos átomos e de tudo o que conhecemos hoje.
Esses fluidos constituem matéria imperceptível aos sentidos humanos. Nossos órgãos físicos não nos permitem percebê-los, mas é certo que neles nos encontramos imersos, seja enquanto encarnados, seja quando desatados do envoltório físico.
Os fluidos têm papel importantíssimo na comunicação. Assim como o som se propaga pelo ar, os pensamentos de encarnados e desencarnados se propagam através deles. Eles são o veículo das ideias, sensações e percepções do Espírito, e assumem propriedades relacionadas àquilo que carregam, ficando impregnados do pensamento transmitido. O fluido será tão deletério quanto a natureza psíquica das vibrações dos maus pensamentos que transporta[3].
Ele influenciará Seres que tenham afinidade com sua carga psíquica[4]. Não é incomum ouvir a experiência de alguém que estava em um evento social onde tudo aparentava correr bem, mas uma “sensação incômoda” o fazia querer se afastar dali. Ou então, que se encontrou com amigos e saiu “renovado” dessa reunião. No primeiro caso, a sensação incômoda advém da percepção dos fluidos carregados de baixo teor vibratório, produzidos por pensamentos de natureza inferior. No segundo caso, os fluidos trazem componentes benéficos, pois sua origem são pensamentos vinculados ao bem.
É também nesse fluido cósmico que os pensamentos são plasmados e adquirem formas, as quais só percebemos graças a uma espécie de sensibilidade extrassensorial[5]. Dependendo da frequência com que estivermos receptivos aos eflúvios de ordem inferior, podemos adoecer o nosso corpo físico e mental, pois essas formas-pensamento são capazes de se fixar em nosso perispírito permanentemente.
Algumas vezes, conseguimos escolher com quem estar, mas, na maioria das vezes, isso não é possível. No trabalho, no trânsito, nas festas, nas ruas, até mesmo em nossos lares, estamos sujeitos à irritação e mau humor alheios, ainda que não nos sejam dirigidos, e é natural que tudo o que esteja em desacordo com a ética e a moral nos perturbe. A maioria de nós costuma revidar uma ofensa, solidarizar com o aborrecimento de outrem, ou se juntar à histeria das buzinas que protestam contra um transgressor, inadvertidos de que, mesmo que tenhamos razão, estamos colaborando para potencializar e espalhar maus eflúvios, prejudicando a todos ao redor.
Quando reagimos a algo ou apoiamos uma postura exaltada, devemos estar cientes de que acabamos de “perder” para nós mesmos. Qualquer pensamento a partir da decisão de entrar em combate emite vibrações que sintonizam com o ataque recebido. Reagindo, cremos estar nos protegendo ou cuidando de alguém que foi injustiçado, mas colocamos o nosso campo energético na mesma vibração do ataque e abrimos as nossas defesas para receber os fluidos deletérios que impregnarão o nosso perispírito, tornando-o receptivo ao ataque e, ainda que provisoriamente, sofrerá dano.
Além de sermos energeticamente minados pelos encarnados, atitudes combativas nos desequilibram emocionalmente e abrem portas para obsessores que se alinham com os sentimentos inferiores emanados.
“Tira primeiro a trave do teu olho e, então,
verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mateus 7:1-5)
Jesus nos ensinou que o “bom combate” é aquele que cuida da luta contra as nossas imperfeições morais. Quando reagimos, é o nosso orgulho que grita; quando tomamos as dores do outro, estamos julgando o próximo. Só seremos capazes de agir com sabedoria e neutralizar os maus eflúvios, quando pararmos de julgar e formos capazes de ver o transgressor como um necessitado de auxílio. Sonhamos com um mundo melhor, mais justo, mas nunca veremos essa mudança enquanto não mudarmos a nós mesmos, de forma a olhar para o próximo com amor, estendendo a mão e perdoando sempre.
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação;
o Espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:41)
O Evangelho nos indica o caminho: “vigiai e orai”. Devemos vigiar nossos pensamentos e atitudes, pois são eles que abrem as nossas defesas para o mal.. É também nessa vigília que adquirimos o hábito de agir conforme esperamos que os outros ajam. Além disso, convém buscar fortalecer as nossas boas intenções através de orações diárias. A prece fortalece a fé, levanta o ânimo e conclama a proteção dos bons Espíritos. Peçamos que a espiritualidade nos inspire; Deus ajuda a criatura através da criatura.
“Não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos do mal.” (Mateus 6:9-13)
Sejamos ou não conscientes dessa responsabilidade, cada um de nós encontra-se, constantemente, atraindo as circunstâncias e as pessoas que, de uma forma ou de outra, entram em consonância com o nosso mundo interior. Qualquer alteração nesse compartilhar dependerá, necessariamente, da transformação de nossa condição íntima, porque as forças que nos unem uns aos outros são as que, em primeiro lugar, emitimos de nós. Em essência, somos o que pensamos e sentimos[6].
Lila
[1](1871 – 1937) Físico Britânico, considerado o precursor da física nuclear.
[2] Questões 27 a 34.
[3] Kardec, Allan; “A Gênese”, capítulo XIV.
[4] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). “Um modo de entender: uma nova forma de viver”.
[5] Kardec, Allan; “O Livro dos Médiuns”, 2ª parte, pergunta 128.
[6] Pelo Espírito HAMMED, psicografado por Francisco do Espírito Santo Neto “Um modo de entender: uma nova forma de viver”.