Toda máquina, quando bem azeitada, levada para manutenções periódicas e utilizada dentro de seus limites técnicos, tem maior durabilidade e é mais eficiente. Sua vida útil e a qualidade do funcionamento dependerão exclusivamente dos cuidados que o usuário lhe dispensar. O mesmo ocorre com a vestimenta que utilizamos a cada encarnação. O Homem é um Ser espiritual que habita um corpo material, cuja longevidade está na proporção dos cuidados que recebe. Se o corpo humano for nutrido, mental e fisicamente, se for exercitado, se tiver respeitados os seus limites e hábitos saudáveis ao longo de sua existência, tenderá a durar mais e proporcionará ao espírito que o habita uma vida com maior qualidade. A receita parece simples, basta segui-la.
O instinto de sobrevivência é uma característica da Espécie Humana fundamental à sua preservação. Entretanto, para viver muito e bem é necessário mais do que sobreviver; é preciso zelar pelo corpo. Seria natural supor que, da mesma forma com que defende a sua vida, reagindo ao perigo iminente sem precisar raciocinar, também tivesse o impulso de cuidar de si mesmo. Entretanto, isso não acontece. Por quê? Porque ainda vive a sua infância espiritual. Como criança, está na fase das descobertas, do aprendizado e tende a ceder ao que lhe traz recompensas mais imediatas.
Mesmo tendo conhecimento de que determinados alimentos prejudicam a saúde, insistimos em consumi-los, pelo prazer sensorial momentâneo. Sabemos que a atividade física praticada regularmente eleva a resistência física e imunológica, aumenta a disposição e proporciona a sensação de bem-estar, mas sempre encontramos desculpas para não exercitar o corpo.
Não apenas os músculos precisam de exercício, o cérebro também! O raciocínio frequente e direcionado cria ligações neuronais, que aumentam o potencial de aprendizagem e de expressão intelectual. Ler, escrever, calcular, jogar jogos de raciocínio, tocar um instrumento musical e fazer trabalhos artísticos, tudo isso exercita a máquina pensante, mas cedemos à preguiça ou então postergamos a atividade, utilizando os mesmos pretextos que mantêm o corpo sedentário.
Uma das dificuldades que enfrentamos em fazer melhores escolhas para termos uma vida saudável está na composição do mundo em que vivemos. Com a finalidade de impulsionar e favorecer o desenvolvimento espiritual, a Providência Divina estabeleceu que o Homem deveria reencarnar em globos de constituições físicas diversas e estágios evolutivos diferentes. Se iniciasse a sua vida em um globo composto por elementos mais sutis, o corpo humano teria constituição tão rarefeita quanto seu ambiente, flutuaria em vez de caminhar, a locomoção seria rápida como o pensamento e o Espírito seria capaz de plasmar a matéria segundo as suas ideias; tudo seria bem mais fácil. Assim vivem os Espíritos em mundos mais evoluídos, posto que já adquiriram valores morais e conhecimentos que dispensam a matéria para seu desenvolvimento.
Caso o Ser Humano vivesse em um mundo de natureza etérea e com tantas facilidades, sem a devida maturidade, ele nada aprenderia sobre o valor da vida, sobre as Leis Divinas, não seria capaz de agir com humildade, de ser caridoso, de perdoar e pedir perdão… não evoluiria. Para que esse crescimento aconteça, precisa encarnar em um corpo denso. Encarcerado em carne, osso e pele, o Espírito sente cerceadas as habilidades que possui no plano espiritual e necessita de outros instrumentos que não sejam apenas a força do pensamento para sobreviver e criar; é forçado a enfrentar a frustração das limitações impostas à sua liberdade, à sua inteligência e aos seus sentidos, e precisa aprender a dominar os instintos e as paixões, privilegiando o raciocínio, desenvolvendo a moral e o intelecto, para que, no futuro, possa migrar para mundos mais felizes.
A falta de compreensão de que o corpo em que vivemos é um limitador e que ter força de vontade para trabalhar em prol do bem comum é necessário para o nosso crescimento, faz com que frequentemente façamos escolhas erradas, prejudicando essa maravilhosa máquina da qual nosso Espírito faz uso para aprender e evoluir.
Acabamos, então, por optar pelo caminho mais fácil, com recompensas imediatas, mas devemos atentar aos nossos valores e aprender que a matéria não é propriedade do Espírito, pois tudo o que levamos ao desencarnarmos são as experiências morais e intelectuais, voltadas para o bem ou para o mal.
Uma outra forma de nutrir o corpo é alimentar o Espírito, verdadeiro proprietário do intelecto e sede da vontade. O provérbio “mente sã, em corpo são”[1] demonstra a relação de complementaridade que deve existir entre ambos. Está comprovado pela ciência que a falta de vigília mental é uma das causas imediatas das doenças psíquicas que afetam a quase um quinto da população mundial – ansiedade, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, stress pós-traumático – e que são combustíveis para a somatização de uma infinidade de doenças físicas. A busca pelo autoaprimoramento, o exercício das virtudes, a manutenção dos pensamentos elevados, tudo isso proporciona benefícios de diversas formas ao nosso corpo e evita doenças psicossomáticas.
Quando buscamos ser pessoas melhores, praticando o bem ao próximo, nosso cérebro promove a produção de substâncias que nos faz sentir uma grande e duradoura satisfação. O mesmo ocorre com a gratidão; ao olharmos o que somos e temos, acreditando que é exatamente o que precisamos para evoluir, ganhamos a “energia” necessária para seguir em frente. Ao nos policiarmos para manter pensamentos elevados, de forma a fazermos comentários estritamente úteis e motivadores, atraímos para o nosso convívio pessoas e entidades espirituais com a mesma vibração superior, que nos influenciam positivamente e nos fazem bem. Sempre que, sinceramente, perdoamos aos nossos semelhantes e pedimos perdão a quem fizemos mal, nos livramos do peso da culpa e da raiva. O perdão liberta a quem perdoa e a quem é perdoado.
Todos os maus pensamentos e condutas viciosas, orgulhosas e egoístas são motivados pelas sensações fugazes proporcionadas pela relação perniciosa com a matéria. Portas abertas para a entrada de obsessores encarnados e desencarnados que se alinham com as emissões energéticas inferiores e nos influenciam negativamente. Pensamentos e ações em prol do bem evitam processos obsessivos; além disso, livramo-nos da possibilidade de sermos nós mesmos o obsidente de nossos desafetos.
Ficamos inertes por que cedemos à preguiça de realizar o esforço que o corpo denso nos impõe. Sabemos que a oração e a meditação são remédios benditos à alma, mas nos distraímos com o que podemos ver e tocar. Sucumbimos aos vícios pelas sensações transitórias, que danificam o organismo e em nada se comparam à verdadeira e perene felicidade.
Se temos consciência de todas essas informações, quê nos falta para que passemos a cuidar do templo do nosso Espírito? Falta-nos autodeterminação. Somos dotados de livre-arbítrio, e o exercício dessa capacidade de escolher deve ser feito com base no que faz bem ao nosso Espírito e corpo.
Lembremo-nos de que recompensas imediatas não são duradouras. O orgulho, o egoísmo, a avareza e a prodigalidade atrasam a nossa evolução uma vez que nos ligam aos bens terrenos e desviam a nossa alma de sua natureza imaterial. Estamos na escola da vida para adquirirmos a maturidade necessária que nos permitirá a progressão para mundos mais etéreos, onde a matéria deixará de ser um obstáculo e o principal objetivo de cada um será trabalhar pelo bem comum. Conscientizemo-nos de que cada reencarnação é uma pequena etapa da nossa vida e não termina “logo ali”. Vivamos com responsabilidade. Quanto antes compreendermos que somos Seres incorpóreos, momentaneamente habitando corpos densos, os quais necessitam de cuidados para podermos cumprir a trajetória de aprendizado e prática do bem, mais rapidamente evoluiremos.
Nossas escolhas dependem exclusivamente de nós. A velocidade da nossa evolução é consequência imediata dessas escolhas.
L i l a
[1] “Mens sana in corpore sano”. Sátira X do poeta romano Juvenal, presume-se entre 509 a.C. – 27 a.C.