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O homem moderno é portador da consciência sobre sua necessidade de evolução em todos os âmbitos da experimentação existencial. Ainda que tente burlar os imperativos da Lei de Progresso através de uma acomodação artificiosa sobre suas aquisições, como quem se fartasse do aprendizado constante ou receasse prosseguir nele, dia virá, ao longo de encarnações sucessivas, em que todos os enfrentamentos perturbadores conducentes ao enriquecimento individual terão sido assumidos. Haverá de vencer os limites mediante a utilização de sua vontade sobre os temores e conflitos, estes herdados de si mesmo e arquivados no inconsciente através de um processo automático de fuga que adia esse enfrentamento.

O medo é uma dessas heranças, que deve ser admitido com naturalidade, observados os seus limites de razoabilidade. É compreensível que o egoísta tenha receio de amar e não ser correspondido; que se tema algo desconhecido, uma aventura, um desafio e mesmo diante de um fenômeno da Natureza na iminência de precipitação. Quem não teme a morte? Mas quando esse sentimento assume proporções incontroláveis, dando lugar a distúrbios psicológicos, desperta o alerta, mormente quando alberga transtornos fóbicos. O individuo acha-se em estado de desequilíbrio e precisa se empenhar para retomar a harmonia interior.

O passo mais importante nesse processo consiste em ter consciência do medo patológico e assumir atitudes firmes de confiança destinadas a substituir o medo por novos empreendimentos. Tanto quanto possível, a identificação de sua origem auxiliará na resposta. Muitas vezes o medo tem sua causa na infância, quando familiares impõem determinados comportamentos aos educandos, impingindo-lhes temor irracional para o caso de rebeldia, os quais não são superados ao longo do tempo. Por isso, encontram-se adultos com medo de roedores, répteis, até mesmo de escuridão e de fantasmas. Outras vezes, experiências desagradáveis de encarnações passadas vêm à tona diante de um fato qualquer, causando impacto constrangedor. Merece ser considerada como concausa a indução telepática de perseguidores do passado que, não tendo superado mágoas, incutem medo dos mais variados matizes, aproveitando-se dos clichês mentais dos próprios infratores. Nesse caso, a oração serve como terapia hábil a elevar o padrão vibratório e auxiliar no esclarecimento do desafeto desencarnado.

Obviamente, as reações às várias espécies de medos diferem conforme a pessoa e as circunstâncias. Alguém aparentemente frágil pode surpreender enfrentando situação de alto risco mais eficientemente do que outro de porte avantajado e supostamente adestrado. O certo é que superar a todos eles consiste empreitada difícil, para a qual se depende de persistência. Vence-se o medo como a qualquer outra anomalia psíquica, isto é, por etapas, degrau a degrau, com os naturais riscos de recaída.

O amor é o melhor remédio contra todos os tipos de medo e compreende três vertentes: a si mesmo, alimentado racionalmente em face do valor da existência e do quanto a vida espera de cada um; ao próximo, na doação de si mesmo em benefício do semelhante, sem o mesquinho interesse compensatório; a Deus, quando se dá testemunho ativo de respeito à Natureza, considerada em sua mais ampla abrangência. O amor supera o medo porque dá lugar à coragem. As desilusões e insucessos encontram nele forças para novas experiências.

A coragem, que se destaca dentre as virtudes do ser humano, quando estimulada, serve para neutralizar as causas do medo e de todos os distúrbios que lhe são correlatos. Seu alicerce racional está no ponto de vista que se tenha sobre a vida futura, isto é, como a criatura se comporta diante das experiências terrenas, cultivando a fé na vida espiritual. Sob essa ótica, tudo não passa de oportunidade para crescimento individual. Mas para atingir esse estágio de compreensão, há necessidade de superação do ego, o que se obtém através de muito exercício e persistência. Recordemo-nos do episódio no Jardim das Oliveiras, quando Simão Pedro sacou a espada e agrediu o soldado Malcos, decepando-lhe a orelha, enquanto Jesus permanecia sereno, apresentando-se como o procurado. O gesto de Simão não foi de coragem, naquele instante e sim uma reação fundada no medo ou resultante de mera impulsividade.

Momentos especiais da vida desafiam nosso nível de coragem: enfermidades, perdas de bens, de estatura social, dramas sentimentais e perda de entes queridos. É preciso ter coragem para analisar friamente cada fase desafiadora para atingir a autossuperação e não se deixar esmorecer diante do aparente fracasso. São atos de “bravura moral” a vencer os impulsos de acomodação que têm sua sede em reações quase infantis. O Espírito consciente de sua necessidade de enfrentamentos para vencer as etapas evolutivas não se acovarda, mantendo harmonia interior em qualquer circunstância. Nem mesmo a iminência da morte o desequilibra, por saber que ela faz parte da vida. Como toda a forma organizada, o corpo humano caminha para a morte. Só o atavismo justificaria o temor dessa ocorrência natural. Desenganadamente, as pessoas não se preparam para esse evento certo de incerto quando, deixando-o correr à revelia. Na undécima hora precipitam-se em queda moral, depressão, medo, ante um diagnóstico adverso a sua expectativa insana de eternização do veículo físico, quando esse momento exige equilíbrio para que o viajor possa enfrentá-lo com segurança. A maioria teme o juízo da própria consciência na prestação de contas após o desencarne, simplesmente porque não exercitou as três facetas do amor nem desenvolveu a virtude da coragem.

Paulo em sua Primeira Epístola aos Coríntios (15:55) indaga: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”, numa forma contundente de demonstrar sua fé sobre a vida futura, capaz de superar temores e angústias diante dessa transição. O Espiritismo oferece recursos para a alma se preparar adequadamente para essa “surpresa” e para qualquer outra perda na vida. Por isso, a recomendação primeira: leiam Kardec!

Encerramos esse resumido estudo com o período que fecha a obra CONFLITOS EXISTENCIAIS [i], na qual nos inspiramos: “Livre do medo da morte, o cidadão avança pelos rios do destino na barca da autoconfiança, desbravando os continentes existenciais com alegria, sem qualquer tipo de limite, porque o seu horizonte é o infinito para onde ruma”.

Marcus Vinicius

 

[i] Conflitos Existenciais – pelo espírito Joanna de Ângelis – psicografia de Divaldo Franco – Livraria Espírita Alvorada Editora.

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