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GRATIDÃO

“Bem aventurados os aflitos” (Jesus)

Gratidão é a ação de reconhecer ou prestar reconhecimento por um benefício recebido. Desse sentimento surge o desejo de recompensar atitudes ou situações agradáveis geradas por outras pessoas.

Ser grato não tem relação com submissão, tampouco com dever favor ou ser refém. Trata-se de um sentimento de elevação espiritual que aproveita ao benfeitor e ao beneficiado.

Sob uma perspectiva superior, é percebida após a conquista de um novo emprego, a vitória em uma competição, o bom desempenho de uma tarefa, no amor correspondido. Seu aspecto espiritual é expressado na gratidão pela vida, pela saúde, pela família, pelo alimento, pelo teto, dentre muitos outros. Todos esses exemplos denotam ser essa uma emoção mais frequentemente relacionada a eventos entendidos como positivos.

De fato, é custoso o sentimento de gratidão quando fatos adversos eclodem. Quem nunca se sentiu frustrado quando, de repente, foi demitido? Quem nunca se sentiu traído quando, de repente, seu cônjuge pediu o divórcio? Quem nunca se sentiu arrasado quando, de repente, perdeu um amigo? Há uma vasta lista de “de repentes” que provocam sentimentos negativos, todos os dias. Todavia, quão repentinos e independentes de atitudes passadas são, de fato, esses acontecimentos? Ao observar uma árvore, não é preciso refletir para compreender que, tempos atrás, sua semente foi plantada, ainda que o evento não seja lembrado.

O mesmo acontece com as ocorrências do dia-a-dia. Em algum momento, uma semente foi plantada pelas escolhas realizadas no passado. O vagar do tempo e, por vezes, das reencarnações podem se encarregar de apagar esse momento da memória, mas o gérmen irá brotar e crescer. Ele dará frutos que trarão sentimentos, felizes ou não, dependendo da sua natureza e de como foram cultivados.

Não, não há “de repentes”. Há toda uma lógica universal que emana de uma Inteligência Superior a qual recompensa o Homem na medida das suas obras. Trata-se de consequência que, frequentemente, acaba por desagradar seu destinatário, posto não ter o objetivo de gratificar, mas de habilitar o aperfeiçoamento.

O Ser Humano carece da compreensão da magnanimidade Divina, a qual concede sucessivos recomeços aos Seus Filhos, ofertando-lhes constante orientação através da Espiritualidade e a todo momento os presenteia com novas oportunidades de lapidação. Minimamente, toda Criatura deveria sentir-se grata pelas experiências vividas e lições aprendidas, pois o objetivo maior da reencarnação é encontrar a essência do Pai dentro de si.

“Oh, homens! Não reconhecereis o poder de vosso Senhor, senão quando ele curar as chagas de vosso corpo e encher os vossos dias de beatitude e de alegria? Não reconhecereis o seu amor, senão quando ele adornar vosso corpo com todas as glórias, e lhe der o seu brilho e o seu alvor?”[1]

No entanto, em face da adversidade, o aprendiz reclama, lamenta, age como se fosse superior aos fatos que o afligem: “como isso foi acontecer logo comigo?”. Trata-os como fatalidades, como se a adversidade não lhe pertencesse. Comporta-se como se as bênçãos recebidas ao longo da vida fossem mérito seu e as “desgraças” fossem um engano Divino[2]. Então, mostra aos outros o quão injustiçado é, o quanto sofre. Seu intuito é angariar simpatia e mitigar uma possível culpa – conduta natural à sua Espécie.

O Homem não percebe que a reclamação é fruto do orgulho, o qual não permite que enxergue além de si mesmo. A atitude reativa o mantém estagnado no sentimento de autocomiseração, afinal, é mais fácil sentir piedade de si mesmo do que assumir a sua parcela de responsabilidade nos eventos a que é submetido.

A Ciência e a Religião, no entanto, oferecem dois remédios para eliminar essa atitude derrotista. A Neurociência constatou que o comportamento reativo se retroalimenta na medida em que é repetido, ou seja, quanto mais reclama, mais o Homem reforça o jeito “reclamão” de ser [3]. Para eliminar do cérebro os padrões negativos, é necessário fazer escolhas deliberadas, repetidamente, de modo a criar novos modelos mentais até que se tornem automáticos. Também descobriu que a gratidão exerce efeitos benéficos surpreendentes sobre a saúde, a cognição e o comportamento humano o que, comprovadamente, reduz o stress e os sintomas depressivos.

É legítimo afirmar, portanto, que gratidão é uma postura de vida que precisa ser estimulada diariamente. Importa em reconhecer as pequenas ofertas da vida, em extrair lições dos eventos quotidianos e sentir-se grato por cada aprendizado. O sentimento de gratidão virá automaticamente quando houver a constatação de que não apenas os episódios considerados positivos, mas, também, os infortúnios são verdadeiros presentes para o autoconhecimento e consequente evolução.

Ainda mais eficaz, o remédio oferecido pela Religião é a fé1. Aquele que tem fé sofre menos com o porvir, tem as angústias e ansiedades mitigadas, pois sabe-se cuidado pela Providência Divina. Ao perceber-se em dificuldade, não hesita, enfrenta os desafios com que se defronta, buscando manter o equilíbrio. Ele compreende que os percalços por que passa foram plantados por si mesmo e que é necessário resgatá-los. Sabe que todo e qualquer obstáculo em seu caminho está a serviço do seu desenvolvimento espiritual e o recebe de bom grado, seguindo com o seu trabalho pautado nos ensinamentos Cristãos de amor e caridade.

“A fé transporta montanhas.” [4]

Gratidão não confere imunidade aos problemas, mas fortalece para o enfrentamento das adversidades. Ela proporciona a humildade de quem se sabe aprendiz da vida, aumenta a capacidade de resignação e reforça a fé em Deus. Além disso, estimula um círculo virtuoso, pois quem é grato tende a retribuir e gerar mais gratidão.[5]

Ao acordar, agradeça por receber mais um dia para cumprir o seu compromisso com a Criação, por mais uma chance de aprender e colocar em prática os ensinamentos adquiridos. Ao longo do dia, reconheça os pequenos presentes que a vida oferece. Antes de dormir, agradeça pelos obstáculos colocados à sua frente e pelos aprendizados advindos das experiências vividas. Alegre-se por saber que você é responsável pelos eventos futuros em sua existência espiritual e enfrente com fé os compromissos assumidos no passado. Seja grato à Inteligência Maior que olha por ti.

Lila

[1] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 5, item 18.

[2] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 28, item 28

[3] Articulista e cientista. http://www.curiousapes.com/the-science-of-happiness-why-complaining-is-literally-killing-you/

[4] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 19. Fala de Jesus.

[5] Borges, Michelson. Revista Vida e Saúde. http://www.revistavidaesaude.com.br/destaques/saude-emocional-e-espiritual/

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