Jornais, revistas, TV, internet são canais informativos que constantemente bombardeiam olhos, ouvidos e mentes das criaturas, relatando maldades, violências, paixões grosseiras, corrupção, estranhas e enigmáticas enfermidades, guerras e extermínios fratricidas.
Tais noticiários levam a crer que a espécie humana é algo deplorável em sua essência, sendo constituída em sua maioria por Seres sem escrúpulos.
Os que assim pensam têm uma visão limitada, restrita, cujos pontos de vista estão estribados numa ideia falsa do conjunto.
Há que se considerar que os Seres dotados de razão são habitantes dos incontáveis mundos do Universo. Sendo a Terra um desses mundos conclui-se, por óbvio, que nela habite apenas uma pequena parcela dessa Humanidade, aliás, pouco representativa em comparação à população total desses mundos. Seria como uma pequena vila diante de imensa metrópole.
Se ora as circunstâncias se apresentam de forma triste e pesarosa, espalhando dor e aflição por toda parte, deve-se o fato à baixa condição moral da maioria de seus habitantes.
Há quem compare a Terra a um hospital. Quem são os que lá se encontram senão enfermos e estropiados? Os que a veem semelhante a um presídio por certo encontrarão uma população afeita aos vícios e a toda gama de criminalidade. Mas pode, também, ser vista como uma grande escola onde a ignorância domina, na expectativa de que o conhecimento ilumine as mentes. Todas essas opiniões têm sua razão de ser, uma vez que o orbe terreno apresenta essas características de forma simultânea. Não é, pois, de se admirar que as agruras e desilusões existam em grau superlativo, em detrimento da alegria e felicidade.
De se notar, entretanto, que não figuram nos hospitais, presídios, escolas, quem deles não necessitem, o que corrobora a tese de que a Humanidade não se encontra toda no Planeta Terra. Da mesma forma, o doente que se curou, o presidiário que cumpriu sua pena, o aluno que se aplicou não necessitam mais permanecer nas respectivas instituições que lhe davam guarida. De sorte que, Espíritos libertos de suas imperfeições morais poderão habitar mundos compatíveis com seu progresso.
As paisagens terrestres já viveram momentos estarrecedores. A título de exemplo, recordemos que a Idade Média foi palco das mais terríveis atrocidades praticadas pelas Cruzadas e na sequência, pela Inquisição. Nessa época, que durou mil anos, a Terra foi assolada pelas sombras. Espíritos que no Plano Espiritual habitavam as trevas (cerca de dois bilhões), reencarnaram em massa – oportunidade concedida por Deus – para reajustamento disciplinar.
“Deus educa as almas por intermédio das próprias almas(1), de forma que tais criaturas não poderiam ter santos como pais, e sim os que se encontravam no mesmo padrão moral que os seus, isto é, Seres da mesma índole psicológica: é a lei da afinidade a unir velhos companheiros de jornadas infinitas.
As heranças dessas maldades perduram até os dias de hoje, parecendo-nos, muitas vezes, incompatíveis com a bondade do Criador. Entretanto, Deus é perfeição absoluta e não erra jamais. Os Espíritos foram criados por Ele, simples e ignorantes. Sua simplicidade, quando percorre os caminhos da sabedoria, reveste-se de nobreza, mas antes desse encontro glorioso, muitos deles, senão todos, ajustam-se aos maiores absurdos da vida, tal como ocorreu na Idade Média, conforme exemplo citado. Todavia, o progresso, que é Lei Divina, tem seus métodos, e devemos aceitá-los com serenidade, paciência e muito amor, não só para conosco, mas para com todos os que se acham sob seus guantes.
A vida é feita de escolhas, portanto, ao Ser inteligente da criação é dado, “por um pouco”, vivenciar experiências nos cenários terrestres que lhe possibilitem o crescimento espiritual, conforme os caminhos que desejar palmilhar. Esse “por um pouco” refere-se ao tempo de existência na carne, que lhe será extremamente benéfico se souber aproveitá-lo nas ações do bem, ainda que amargando sofrimentos atrozes, como meio de reajustar-se com as ações ignóbeis praticadas em tempos distantes, quiçá na época medieval… Certamente é a Lei do Progresso acenando-lhe as chances de recuperação.
Que significa o breve período de encarnação diante da eternidade? Entretanto, quantos se valem desse diminuto tempo para adquirirem aflições por anos e anos a fio…
No longe do tempo, criaturas houveram cujos atos indignos enlutaram a Terra; mas, também existiram aquelas que, nesse mesmo “por um pouco”, glorificaram sua passagem pelo Planeta.
“Jesus não se abalançou a disputar nem mesmo “por um pouco” em face da crueldade de quantos o perseguiam, de modo a ensinar-nos o segredo divino da Cruz com Ressurreição Eterna.
Paulo não se animou a descansar “por um pouco” depois de encontrar o Mestre às Portas de Damasco, de maneira a legar-nos seu exemplo de trabalho e fé viva.”(2)
Caro leitor, olhemos para nossa Casa Planetária com olhos de ver, agradecendo ao Pai podermos nela habitar. A Terra se encontra em fase de transformação, onde fulgurará no espaço infinito como Mundo de Regeneração. Oxalá possamos acompanhá-la em sua trajetória evolutiva, tendo sempre em mente que se aqui estamos “por um pouco”, façamos por bem aproveitar esse tempo em obras dignas que nos elevem a alma, porque o “pouco” em obras indignas nos conduzirá irremediavelmente ao “muito” de sofrimento e dor.
Yvone
Obras consultadas:
O Evangelho segundo o Espiritismo (Allan Kardec) – cap. III, 6/7;
Francisco de Assis (João Nunes Maia / Miramez) – 27ª Ed, cap. 2, pág. 53/54;
(1) Idem;
(2) Fonte Viva (F.C.Xavier / Emmanuel) cap. 42.