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As civilizações do passado foram pródigas em ressaltar a importância da vida espiritual, revelando com isso que o homem não é só constituído de nervos, músculos e ossos, mas, que é na realidade um Espírito a ocupar temporariamente um corpo de carne.

Era comum no Egito antigo a comunicação com os que já haviam desencarnado, e ensinavam haver do “lado de lá” uma espécie de tribunal onde eram julgados os que ali chegassem, entre Anúbis, o gênio com cabeça de chacal, e Hórus o gênio com cabeça de gavião, diante de Maât, a deusa da justiça. Nesse evento ficava decidido o destino das almas: ascensão ao esplendor solar ou retorno à Terra onde deveriam expiar seus erros e crimes.

Para os hindus o Juiz dos Mortos era o responsável pela subida das almas ao paraíso ou descida ao reino de Varuna, o gênio das águas, onde seriam insulados em câmaras de tortura, amarrados uns aos outros por serpentes infernais.

Hebreus, gregos, gauleses e romanos pensavam de forma semelhante.

Observamos aí o velho conceito de Céu/Inferno, imposto às almas que deixavam seus corpos físicos pelo desencarne. Aos bons, as delícias de um Céu de felicidade eterna; aos maus, os horrores de um tormento sem fim, ou a volta à Terra para pagar pelos pecados cometidos (reencarnação).

Essa forma de pensar contribuiu para que se desenvolvesse o medo da morte, sim, porque, qual a criatura vivente que detém um padrão comportamental de puras virtudes? Onde aquele que nunca houvesse cedido ao ataque da tentação? Justo temer o que o futuro lhe aguardava.

Crenças que tais tiveram seu momento na evolução humana, numa fase em que o Ser ainda não compreendia Deus, sua justiça e misericórdia. O fato que mais nos interessa, entretanto, é demonstrar que sempre se preocupou, a criatura, com o que aconteceria com ela após a morte.

O desenrolar dos séculos na esteira do tempo proporcionou o desenvolvimento do intelecto e da ciência que, juntamente com os questionamentos filosóficos e o progresso em geral, fez com que os indivíduos começassem a examinar aqueles conceitos por outros prismas, não raro levando-os do medo absoluto à descrença total. Então, o materialismo assentou lugar, determinando a inexistência do Espírito, isto é, morto o corpo, nada mais restaria.

Para muitos que assim pensam, o importante é viver o momento e procurar vivê-lo da melhor forma possível, ainda que tenham de passar por cima do interesse e da dignidade de seus comparsas no jogo da vida. Neste caso a moral não tem valia, ao contrário, atrapalha nas decisões egoístas.

O Cristo durante seu apostolado trouxe luz à questão da vida futura (espiritual) do homem. Em todos os seus ensinos ressaltou a importância dessa compreensão para que se tornasse objeto de preocupação constante do homem terreno. Todavia, ninguém se achava preparado para entender com precisão o alto significado dessa lição, razão pela qual o Mestre a apresentara como uma Lei da Natureza da qual ninguém escaparia.

Os cristãos creem na vida futura, mas a ideia que dela fazem ainda é imprecisa, cheia de dúvidas e incertezas.

A ideia de Inferno implantou-se mais para atender a convencionalismos religiosos do que para mudar padrões comportamentais errôneos, pois, incutindo o pavor no crente tornava-o mais submisso às regras e dogmas da religião ortodoxa. Os resquícios desse mal perduram até os dias de hoje.

A Doutrina Espírita, explicando racionalmente as palavras do Cristo, aclarou as mentes que se fizeram receptivas à compreensão. Em tempos atuais, quando a Humanidade se acha mais preparada para os avanços do conhecimento, crer na vida após a morte interfere na moralização do homem uma vez que o torna sabedor de que responderá por todos os seus atos enquanto encarnado, os quais repercutem em consequências vindouras, seja no Plano Espiritual após o decesso físico ou em encarnações futuras.

A Boa Nova surgiu despertando a mente e o coração para novas compreensões. Interesses outros impediram seu progresso mas o Espiritismo aí está para dirimir dúvidas.

Entretanto, quantos se preocupam verdadeiramente com isso?

Examinemos de relance a situação vigente no Planeta, em todas as Nações. Nunca se viu tanta desarmonia, violência, fome, miséria, doenças, desprezo total pela vida humana numa corrida insana em busca dos prazeres fáceis. Ao lado desses comportamentos mórbidos e destruidores, grupos batalham pela expansão do amor, da fé, da fraternidade, solidariedade, na busca da elevação do Ser humano.

Por que em uns a descrença e pouco caso à vida, e em outros a exaltação da paz e harmonia? Depende do ponto de vista que cada um tenha sobre a vida futura. A literatura espírita é pródiga em informações advindas de Espíritos respeitáveis, dentre eles André Luiz que em suas obras tece comentários e experiências que conduzem a maior entendimento.

Aos que ainda se acham vagando pelos becos escuros da descrença, busquem as praças iluminadas da sabedoria para que, em tempo, exerçam a transformação íntima, na esperança de dias melhores que certamente virão aos que a eles fizerem jus.

É da Lei que atinjamos a perfeição, e a vida na matéria enseja oportunidades para isso; mas, se colocamos barreiras e desviamos os passos em sentido contrário aos seus propósitos, estaremos dando origem a aflições e sofrimentos que fatalmente haveremos de resgatar.

02Aqueles, pois, que imaginam ser a morte o ponto final dos sofrimentos ou que se acreditam privilegiados por seguirem fielmente rituais de superfície nos templos religiosos, se surpreenderão na viagem de volta à Pátria Espiritual ao perceberem que continuam indissoluvelmente ligados às suas próprias obras. Nossos pensamentos, palavras, ações criam asas de libertação ou algemas que escravizam, conduzindo-nos aos “Céus” (entenda-se locais de progresso e ascensão do Espírito) ou aos “Infernos” (entenda-se locais onde se reúnem por sintonia, Espíritos necessitados de reparação da conduta errônea). Isto nos leva à conclusão de que Céu e Inferno são os estados d’alma que nós mesmos criamos, e os vivemos tanto aqui, na matéria, como lá, na vida espiritual.

Por que não nos preocuparmos já, com o nosso destino fora da matéria?

 

Yvone

 

Fontes de consulta:

Ação e Reação – André Luiz, cap.1

O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec, cap. 2

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