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O Ser humano não precisa muito pensar para chegar à certeza de que em seu entorno gravitam individualidades dos mais variados matizes intelectuais e espirituais e que essa realidade decorre das diferentes experiências, direcionamento nos estudos e dedicação no aprimoramento moral. Trata-se de um empreendimento que remonta aos tempos idos e jamais terá seu termo, dado que a evolução é um processo contínuo e interminável e que somos imortais na substância.

Entidades Superiores, encarnadas ou libertas do veículo físico atuam constantemente sobre os de menor estatura, brindando-os com preciosas informações que estimulam a investigação para melhor compreensão daquilo que sistematicamente lhes escapa ao raciocínio transcendental. Na medida em que o conhecimento evolui, amplia-se a capacidade de entendimento. Ao tempo do Cristo, a Humanidade já havia despertado seu interesse por voos mais audaciosos em busca da verdade. Justamente por isso que a semente do amor por Ele disseminada rendeu bons frutos.

Exemplo disso é o Novo Testamento, escrito por Espíritos capacitados e inspirados para atingir mentes preparadas para recepcionar-lhe os ensinamentos. É o que sentencia MacGregor [i]: “Toda a literatura do Novo Testamento, para não dizer a vasta literatura não canônica do cristianismo primitivo, foi escrita por e para pessoas que haviam desenvolvido considerável sensibilidade aos fenômenos psíquicos”. Para esse estudioso, o gnosticismo é um sistema doutrinário desenvolvido a partir da realidade psíquica experimental, de sorte que o gnóstico tem por objetivo o retorno a Deus através do conhecimento. Recorda-se que o termo gnose deriva do grego gnosis, que significa conhecimento, e que para seus adeptos esse é um conhecimento intuitivo, diferente do científico ou racional. Com efeito, criado simples e ignorante, o Espírito ascenderá às culminâncias graças a seu próprio esforço e para isso o conhecimento do Todo não o exime de conhecer-se a si mesmo. É o que se extrai do logion nº 67 de O Evangelho Gnóstico de Tomé, cujo escrito em língua copta sobre papiro foi descoberto em 1947, nas imediações do Mar Morto – Egito, e traduzido apenas em 1955[ii].

Em O Livro dos Espíritos[iii], os Instrutores do Além deram ao Codificador respostas breves às perguntas de números 97 a 99 acerca da hierarquia dos Espíritos segundo o seu grau de perfeição, o que lhe permitiu um desdobramento que se acha contido no item VI – Escala Espírita. Dali se extraem as seguintes categorias: Espíritos imperfeitos, Espíritos Bons e Espíritos Puros. A partir dessa classificação, várias subcategorias ali estão discriminadas didaticamente. Seriam, em última análise, os hílicos ou materiais, carnais, prisioneiros dos sentidos num primeiro degrau evolutivo; em seguida, os mais sensíveis às aspirações espirituais, mas ainda apegados à matéria e por último os seres espiritualizados, sublimados, conforme seja a classificação dos gnósticos. Contrariamente ao que possa parecer ao querido leitor ávido por conhecimento, os evangelhos gnósticos (de Maria Madalena, de Tomé, de Felipe e outros) não são heréticos. Eles são tão fiéis ao Cristianismo quanto os canônicos; simplesmente seus textos não foram aproveitados pela Igreja por entender que eles ameaçavam “fraturar” aspectos doutrinários e práticos importados do judaísmo e nela cristalizados.

Na busca pelo conhecimento espiritual, o Homem acercou-se de Jesus como quem busca a água pura que dessedenta para sempre. Analisada a natureza deles e separados por grupos, admite-se a seguinte divisão: os adeptos, os discípulos e os apóstolos. Os primeiros são os que tentam aplicar os ensinamentos morais e espirituais de Jesus; os discípulos eram teoricamente 72, que se responsabilizaram pela difusão da Boa Nova; os Apóstolos foram 12, escolhidos a dedo por Jesus após seu recolhimento para oração numa colina de Cafarnaum. Destes, três compunham o grupo mais próximo e se distinguiam dos demais. Eram Pedro, Tiago e João. Mulheres assumiram espontaneamente o apostolado, e foram prestigiadas por Jesus, conquanto não tivessem sido convocadas por Ele: Maria, mãe de Jesus; Maria, mãe de Tiago e José; Salomé, mulher de Zebedeu e mãe de Tiago e João; Maria de Magdala; Joana de Cuza e outras tantas.[iv]

Esse breve passeio histórico nos habilita a concluir quão complexa é a questão em torno da maturidade espiritual, ao mesmo tempo em que nos estimula a pegar uma carona no trem do conhecimento, ainda que seja no vagão da retaguarda, para fazer acender a luz interior. Ela está em nós, porque faz parte da essência divina que em nós habita como preciosa substância a ser trabalhada até a excelsitude “embora um tanto obscurecida pelo inevitável sufocamento produzido pela carne”, isto é, pelo efeito da reencarnação. O conhecimento abre as portas para a libertação dos apegos e ilusões. Eleva o Espírito a patamares superiores, seguindo a progressão natural, de adepto a apóstolo; de imperfeitos a puros; de materiais a espiritualizados. Essa escalada obedece a um encadeamento – sem saltos, sem milagres – cujo resultado depende exclusivamente do esforço pessoal e persistente. Muitas serão as lutas, as lágrimas, as incompreensões, mas a proximidade de religação com o Senhor da Vida por certo compensará.

Novo calendário se abre, convidando-nos a deixar a gare e ingressar no trem do conhecimento, que só aceita passagem de ida com destino ao despertamento e à conquista da luz.

Marcus Vinicius

 

[i] MacGregor, Geddes – A Renaissance in Christian Thougt – apud Evangelho Gnóstico de Tomé – Miranda, Herminio C. – Lachâtre, pág. 31.

[ii] Miranda, Herminio C – idem, pág. 15.

[iii] – Kardec, Allan – tradução J. Herculano Pires – Lake,

[iv] Caldeira. Wesley – Da Manjedoura a Emaús – FEB – pág. 129.

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