O pensamento “não pertenço a esse lugar” é quase inevitável quando o sentimento de desamor parece reinar ao redor. A observação de ações que com frequência agridem princípios e valores sociais provoca, em muitas pessoas, não raramente, a sensação de inadequação ao local onde vivem. As agruras que abalam o equilíbrio e testam as forças humanas, também cegam esses sofredores, que não se enxergam cúmplices do ambiente para o qual concorrem.
É fato que a Humanidade é composta por seres de variados graus evolutivos, mas não há quem não tenha a sua parcela de defeitos, porquanto a Terra é um planeta de expiações e provas, e aqueles que o habitam necessitam evoluir.
O Cristo, há dois mil anos, generosamente retornou com a missão de ensinar aos Homens a amar aos seus semelhantes. Atravessou a Palestina trabalhando incessantemente por todos os que quisessem seguir o seu exemplo e mostrou aos Seres Humanos que Amar é laborar em prol do outro. Louvou os sofredores, os deserdados, os pobres, os oprimidos e os esfaimados. Mensageiro incomparável do amor mostrou, com benignidade e doçura, a necessidade de vencer-se a si próprio. [1]
Se, em sua perfeição, Ele não julgou, a quem seria lícito reclamar da ausência de amor ao próximo, quando não oferece a tolerância e o perdão? Quem teria superioridade moral para questionar o seu vínculo ao meio, quando nada faz para melhorá-lo, estendendo a mão aos menos felizes?
“E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho?” (Mateus 7:3)
O Homem não concebe que não há outro adversário senão ele mesmo. Por afinidade e sintonia[2], tem atraído aquilo o que vem cultivando dentro de si e se esquece de que seu livre-arbítrio o conduziu ao ponto em que se encontra. Pois, a referida sensação de não pertencimento ao meio é tão somente efeito do que vem alimentando ao longo das sucessivas existências materiais por que passou.
Em lugar de se martirizar, precisa se reconhecer responsável pelos obstáculos vividos e pelo ambiente onde se encontra. Emoções e pensamentos negativos fundam atmosfera propícia para a ação de energias inferiores que se multiplicam e arrebatam os invigilantes, provocando uma reação em cadeia que só pode ser dissipada pela ação do Amor. É necessário, antes de tudo, vigiar[3] os próprios pensamentos e sentimentos. Entender que a atitude mental define a qualidade das vibrações emanadas e que cada um atrai e sintoniza com situações e seres afins com a natureza dessas emissões.
“Quando o amor se recusa à realização do progresso, a dor propele à sua conquista”.1
Em vez de reclamar, deve aceitar com resignação o sofrimento e assimilar que ele está ligado às decisões tomadas em vidas passadas[4]. A resignação, quando verdadeira, é ativa, raciocinada e não exclui a possibilidade de a criatura atuar para superar os obstáculos. Ela faz com que o sujeito assuma a responsabilidade pelo que ocorre na própria vida e tome decisões assertivas, voltadas para o bem.
“Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados” (Mateus 5:4)
Para auxiliar no exercício da aceitação dos desígnios divinos, importa manter em perspectiva a duração de cada vida corpórea, comparando-a a pontos sucessivos no infinito temporal. Desta feita, torna-se mais fácil perceber que as dores são a providência do Pai para o crescimento de Seus filhos, e que é breve frente à eternidade. A Lei Natural que rege as provas “é uma das maiores instituições universais para a distribuição dos benefícios divinos”.[5]
No suporte desta empreitada íntima, a oração com fé[6] é fundamental, pois auxilia na renovação das energias física e mental, confere maior força interior para transpor obstáculos, propicia conexão espiritual auxiliadora e reforça o exercício da resignação.
“Quando vos atingir um motivo de dor ou de contrariedade, tratai de elevar-vos acima das circunstâncias. E quando chegardes a dominar os impulsos da impaciência, da cólera ou do desespero, dizei, com justa satisfação: Eu fui o mais forte.”1
Quando vigia seus pensamentos e atitudes, compreende os desígnios que lhe foram destinados e se apoia na fé, o Homem se reveste de compaixão e humildade, o que o torna mais capaz de agir amorosamente consigo e com o próximo, promovendo o seu progresso e do ambiente que o cerca[7].
Nada do que ocorre na existência de cada Ser é obra do acaso. “Nasceste no lar de que precisavas. Vestiste o corpo físico que merecias. Moras no melhor lugar que Deus poderia te proporcionar, de acordo com teu adiantamento…”[8]
O Criador trabalha incessantemente para que Seus filhos caminhem em Sua direção e pede apenas que ajam com Amor. A caridade, a tolerância e o perdão são as maiores expressões de amor que se pode dar.
O Natal simboliza o nascimento do Amor. Cuidemos de nossa reforma íntima para que cada dia possa ser Natal dentro de nós.
Feliz Natal!
Lila
[1] Franco, Divaldo – pelo Espírito Amélia Rodrigues. Pelos caminhos de Jesus.
[2] Leis Naturais da Sintonia e da Afinidade.
[3] “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação” (Mateus 26:41)
[4] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap V, item 12 e 13 – Motivos de resignação.
[5] Xavier, F. Cândido – pelo Espírito Emmanuel. O Consolador. Q. 245.
[6] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap V, item 18 – Bem sofrer e mal sofrer.
[7] Lei do Progresso.
[8] Santo, Francisco do Espírito – pelo Espírito Hammed. Trecho da mensagem “Reprogramação”.